Quando jogamos RPG, é comum que os jogadores fiquem empolgados com a interpretação dos seus personagens, o que pode enriquecer muito a narrativa da campanha. Isso até permite uma sessão mais espontânea para o mestre, afinal, se os jogadores focam em interagir com o mundo ao seu redor, assim como entre si, a sessão depende menos da narração do mestre dando seguimento à história.
Entretanto, tudo que vem em excesso também pode prejudicar a mesa. Jogadores muito animados em fazer o seu personagem aparecer podem acabar empurrando os outros jogadores para a sua sombra. O apego aos “holofotes” da narrativa pode atrapalhar a dinâmica do grupo, a diversão para os outros jogadores e até para o mestre.
Além disso, às vezes o próprio mestre foca tanto no conteúdo que preparou para a sessão que acaba negligenciando os personagens dos jogadores. Ou então, acaba colocando um dos personagens desproporcionalmente sob os holofotes, gerando o mesmo sentimento de negligência para os outros.
Por isso, esse texto vem com dicas que podem ajudar tanto mestres como jogadores na hora de organizarem o jogo e interpretar os personagens para que todos possam receber a atenção necessária. E acreditem, as vezes isso pode até ser mais proveitoso para aquele personagem que queremos tanto deixar em evidência.
Para jogadores:
Deixe que outros resolvam os problemas
Os aventureiros não viajam em grupo à toa. Nossos personagens não são capazes de fazer tudo sozinhos, e não tem nada de errado com isso. O guerreiro não precisa tentar decifrar sozinho as runas arcanas enquanto o bruxo é o mais preparado para isso. Conheça seus companheiros e seus pontos fortes e busque enxergar quando eles podem utilizá-los. Se a habilidade daquele personagem encaixa mais com a situação do momento, deixe ele brilhar!
Os outros personagens também têm suas histórias
Assim como temos ideias sobre o que pode acontecer com o nosso querido personagem, nossos companheiros de mesa também têm. Logo, deixe eles viverem essas histórias. Escutando, é possível ver que os personagens deles também são maravilhosos e interessantes.
Não só isso, saber mais sobre a história envolvendo os outros personagens ajuda a melhorar a interação entre vocês! Você pode usar o que ouviu em outra cena, para incluir aquele personagem em sua interpretação. Seus personagens podem descobrir pontos em comum ou discutir sobre seus pontos de vista. Então, não vale deixar ele falar e abrir o celular, entendeu?
O nosso grande momento
Ao deixar de aparecer tanto, tornamos aquele momento em que tomamos a dianteira mais especial. Do contrário, os outros jogadores podem até ficar saturados de sempre ouvir sobre nossa história. Assim, no momento que tanto esperamos, podemos brilhar em cena e torná-la muito mais memorável - e, se nossos companheiros também aprenderam, eles reconhecerão o momento e tranquilamente te darão os holofotes.
Lembre, se todos os momentos forem especiais, nenhum momento será especial.
Porque gostamos de nossos colegas
Por último, e mais importante, a principal razão para renunciar aos holofotes é porque gostamos dos nossos colegas de mesa e do mestre. Muitas mesas de RPG são compostas por amigos, e nós também prezamos pela diversão deles. Tudo bem que seu personagem gosta de aparecer, mas é melhor “fazer tudo que ele faria” ou ajudar a construir momentos especiais para todas as pessoas reais na mesa? Lembre-se, no final é apenas um jogo.
A mesma dica vai para seu tratamento do mestre. Ele passa horas preparando tudo e seu personagem não faz nada sem o cenário que ele construiu. Então, respeite seu trabalho! Evite tomar sempre as rédeas para trazer o foco a você, e deixe-o guiá-los pela história que vocês estão narrando juntos. Similarmente, se você sentir-se negligenciado ou achar que outra pessoa está recebendo mais atenção que o normal, converse com seu mestre para achar uma solução que agrade a todos.
Para mestres:
Arcos narrativos
É comum em muitas narrativas que momentos diferentes foquem em personagens diferentes. Afinal, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Mas, diferente dos filmes que separam personagens para desenvolvê-los em histórias simultâneas, onde cada personagem só participa da sua parte, no RPG os jogadores estão todos sentados à mesma mesa, com personagens que se aventuram juntos.
Então, uma boa opção é a de criar pequenas cenas, aventuras ou situações onde um personagem se torna o foco, aprofundando e evoluindo sua história pessoal. Esses momentos estariam distribuídos ao longo da campanha ou concentrados em um de seus atos. Cuidado apenas para não passar muito tempo com os holofotes no mesmo lugar, e busque dar aos outros jogadores alguma influência no arco daquele personagem, mesmo que pequena. Ao final da campanha, você terá desenvolvido e dado o estrelato para cada personagem igualmente!
Relações entre personagens.
Por vezes esquecemos que nossos jogadores criam histórias profundas e interessantes para seus personagens, e que certas características delas podem interagir com as de outros - encaixando perfeitamente ou sofrendo leves alterações, sempre comunicadas, para que o façam. Dessa forma, você pode trazer à tona momentos em que o grupo ou parte dele precisa interagir entre si e realmente conversar. Além de render ótimas cenas quando todos estão investidos naquilo, uma conversa sempre exige que todos os envolvidos nela falem um pouco. Assim, os holofotes estarão bem divididos.
Conversem entre si!
Essa deve sempre ser a primeira resposta no caso de algum problema ocorrer em sua mesa. Conversando, expressamos como nos sentimos e podemos tomar decisões como um grupo para poder resolver nossas questões. Se um jogador está atrapalhando os momentos de diversão dos outros, converse com ele individualmente. Se achar que alguém não está confortável com os holofotes, procure saber o que essa pessoa preferiria. Se sentir que seu grupo está insensível no que se trata dos “holofotes” da interpretação, tenha uma conversa franca sobre a dinâmica do jogo, a divisão de sua atenção e as expectativas de cada um.
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